Rio de Janeiro, Sábado 14 de Agosto de 1982. Maracanã.
Neste exato dia começou minha história com o esporte bretão e com a vida. O referido camisa dez da gávea já foi citado aqui outras vezes, mas agora cito uma experiência vivida por um menino de 5 anos.
Meu Pai sempre desejou um filho homem. Apaixonado por futebol e samba, fazia do Botafogo e do Império Serrano uma extensão de sua casa. O filho homem, tão aguardado, veio em 1977, depois de duas meninas.
A partir desse momento começou uma incansável luta de pai contra filho. O pai, nascido em 1946 em Belém, cresceu vendo Garrincha, Didi, Nilton Santos, Quarentinha, Paulo César Caju e outros. Sua chegada ao Rio de Janeiro em 1971 foi acompanhada de tardes e tardes no maior do mundo. Seu filho era o que faltava para a transferência de sua intensa paixão pelo Glorioso da Estrela Solitária.
Camisas, bandeiras, meias, shorts, álbuns, figurinhas, canecas, revistas e afins com o escudo botafoguense preenchiam a modesta casa. O menino, no entanto, começava a desenvolver seus gostos e caminhar em direção oposta ao pai. A possibilidade do menino virar flamenguista se tornava cada vez maior, afinal nascer em 1977 e não ser flamengo era muito complicado, culpa direta do tal camisa 10 da Gávea.
A tensão chegou ao grau máximo quando o menino, na autoridade dos seus 5 anos e da amizade desenvolvida com seu pai, abriu o jogo e disse: “PAI, EU SOU FLAMENGO. EU QUERO SER IGUAL AO ZICO”. O pai tentou argumentar e propôs uma “Guerra Branca”. Foi feito um acordo. No próximo Flamengo X Botafogo (que ocorreu no dia 14 de Agosto de 1982) será tirada a prova final. O pai levou o filho pela primeira vez ao maracanã. No fundo ele ainda tinha a esperança que Mendonça, o craque botafoguense da época, cativasse o menino. Pura ilusão. O Flamengo, maior time do mundo naquele momento, foi impiedoso e meteu 3 X 0 no Botafogo. Zico, o camisa 10 da Gávea, marcou dois gols e virou o maior ídolo daquele menino. Na saída do maracanã pai e filho estavam felizes. Naquele momento o pai entendia que o que Garrincha tinha representado pra ele, Zico representava pro filho. A camisa do flamengo, sua primeira, foi comprada naquele sábado inesquecível.
Esse dia se tornou o divisor de águas em minha vida, tinha chegado a um estágio de companheirismo com meu pai que me norteia até hoje, mesmo com sua ausência.
Uma peça da vida separou pai e filho no ano seguinte, 1983. Uns dizem que o pai morreu de desgosto. Malvados. Na verdade o que ficou dessa história foi o amor pelo futebol, a incrível vontade de viver e ser feliz, o bom humor devastador e o companheirismo, que sempre me acompanharão.
Abraços, Tadeu (o menino da história).
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Ficha Técnica:
Flamengo 3 x 0 Botafogo (RJ)Campeonato Estadual - 1º Turno - Taça Guanabara14/08/82 - Estadio: Maracanã - Rio de JaneiroTime: Cantarele, Leandro, Marinho(Antunes), Mozer, Júnior, Andrade, Adilio, Zico(Zezé), Wilsinho, Tita e Lico.
Gols: Zico (2 gols) e Adilio.
* postado originalmente em 10 de abril de 2008 com o nome "O camisa 10 da Gávea e o menino"
8 comentários:
esse Felipe não é mole...me "posta" assim sem a menor cerimônia! rs
abraços...
Eu lembro desse.... LINDO!!!
Que bom que foi recuperado!
Esse post é lindo e emocionante. Imagina se o Chefe não recuperaria!
Bjos!
Putz... Chorei...
Não tinha lido quando foi postado da primeira vez!
Isso é golpe baixo, carrinho na canela no blog das meninas não dá pra competir!!
Bom rever esta história... Prova real que determinados laços são imortais!
Parabéns Tadeu,
pelo belo texto,
pelo pai botafoguense e
pelo amor eterno de vocês...
Bjs
Obs: Só quero deixar um pequeno depoimento...
Sou da mesma geração e resisti aos massacres constantes do Zico no meu AMADO FOGÃO!!!
Isso que é mulher de raça!! :)
Esse texto é MUITO FODA!!!!!! Como eu sempre digo, puro orgulho...
Mil vezes lido, mil vezes emoção aflorada...lindo amor...
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