VOCÊS PRECISAM SER DE HOLLANDA

Apesar de me arriscar a um assunto que em geral eu me atrapalho todo, fica apenas a ressalva que o que direi é uma opinião minha e que, ao meu ver, tem total apoio na realidade. A verdade é que falarei sobre mulheres. E falar sobre elas hoje meu amigo, talvez seja mais perigoso do que fazer um desenho de Maomé fazendo bananeira. De duas uma: ou me acusarão de machista insensível que não sabe a diferença de uma mulher e um ferro da passar ou culparão minha juventude por não entender nada sobre elas. Mas me arriscarei.

O fato é que estive no Rio de Janeiro a pouco e tive a oportunidade de ir ao show de um grupo musical chamado Mulheres de Hollanda. Como não poderia ser diferente, elas dedicam suas carreiras para cantar as músicas de Chico Buarque. O grupo é muito bom e me fez refletir algo que eu já sabia mas me recusava a acreditar. A grande verdade é que o Chico Buarque de Hollanda é a prova cabal de que, com o perdão da má palavra, todo homem é corno. Isso mesmo! Depois do Chico, nós homens, somos a eterna segunda opção de nossas amadas...encare isso meu amigo! É bobagem retrucar...

Quer saber de mais outra? Além delas serem dele e não da gente (lero-lero!!), o sujeito em questão é quem construiu sua mulher. Chico Buarque de Hollanda inventou a mulher brasileira contemporânea. Todas elas que nasceram no fim dos anos 50 pra cá são de Hollanda. Foi Chico quem apresentou à mulher brasileira todas as possibilidades de serem o que nunca foram antes. Não é a toa que o mesmo é contemporâneo do movimento de libertação feminina da década de 60. As mulheres brasileiras precisavam entender para onde iam, o que queriam, o que desejavam, colocar sua libido pra fora e o Buarque foi um dos que indicou o caminho dessa nova mulher. Não é a toa que hoje elas se derretem aos seus pés, dedicando grupos musicais, peças teatrais, teses de doutorado entre outras deferências.

A bem da verdade, que me perdoem Vinicius, Tom e os demais poetas, mas as mulheres de Chico eram muito mais interessantes e reais do que qualquer uma idealizada por eles que, apesar de serem geniais também, em geral viviam “apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e ser só perdão”. Ao contrário, as mulheres do Francisco eram mais complexas, mais altivas, cheias de desejos, mistérios, inquietações, contrariedades, dissabores, morriam de amores como todas as mulheres, mas também sentiam inveja, ciúmes, podiam ser vingativas, putas e vadias... como todas as mulheres.

Sejam elas Geni, Rita, Helena, Marieta, Ana, Angélica, Bárbara, Cecília, Beatriz, Leila, Terezinha, Carolina, Joana, Maria, Luiza, Renata, Cristina... cada uma das mulheres do Buarque é a síntese do que a mulher pode se transformar depois que o Chico as reinventou. Que mulher nunca se vingou (ou queria se vingar) de seu ex ao som de “olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que sem você eu passo bem demais”?

Que mulher não viveu ou, pelo menos, não entende a fossa dilacerante e humilhante de ser abandonada por um amor reclamando baixinho no tapete Atrás da Porta? Que casal nunca viveu os erros de um relacionamento, tendo que pedir perdão por “fazeres mil perguntas que em vidas que andam juntas ninguém faz”, onde quem perdoa a traição é o traidor?

O Chico, além de ser um dos grandes expoentes de contestação ao regime militar da geração de 68, que mudou a política e os costumes do Brasil e do Mundo e, que nesse ano, comemoram 40 anos de um período muito singular na história da humanidade, ele desnudou à mulher em todas as suas facetas e escancarou o submundo afetivo dos casais, colocando em cheque o mundo machista dos relacionamentos. Pensando bem, começo a acreditar que os homens também precisam ser de Hollanda.

É por isso que eu digo: as mulheres meus amigos e minhas amigas, para serem MULHERES, precisam ser de Hollanda. Enquanto as mulheres não forem de Hollanda, elas não poderão ser de mais ninguém. Então, contente-se com o seu papel coadjuvante na história da sua mulher e comece a aceitar que ser corno do Chico é necessário. É a vida meu amigo, é a vida!

* postado originalmente em agosto de 2008