quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

AS NUANCES DO NOSSO PRECONCEITO



Pessoas queridas do meu pulmão, não é exatamente da nossa laia o hábito de publicar nesse espaço, textos que não sejam de nossa autoria. Mas, ora ou outra, surge algumas pérolas que dizem exatamente o que queremos dizer e no estilo que sempre escrevemos. Ou seja, nos copiam descaradamente.

O último plagiador sem vergonha foi o ótimo Antônio Prata que, numa crônica publicada ontem na FOLHA, sintetizou muito bem por onde anda o nosso preconceito nestes novos tempos de mudanças sociais no país. O Prata vem se destacando ultimamente como um dos maiores cronistas da nova geração, quase tão bom quanto o Tadeu., o Vinícius e o Glauco.
Deliciem-se e, se possível, olhem na cara do seu preconceito...

O AEROPORTO TÁ PARECENDO RODOVIÁRIA

O funcionário do supermercado empacota minhas compras. A freguesa se aproxima com sua cesta e pergunta: "Oi, rapazinho, onde fica a farinha de mandioca?". "Ali, senhora, corredor 3." "Obrigada." "Disponha."

A cena seria trivial, não fosse um pequeno detalhe: o "rapazinho" já passava dos quarenta. Teria a mulher uma particularíssima disfunção neurológica, chamada, digamos etariofasia aguda? Mostra-se a ela uma imagem do Papai Noel e outra do Neymar, pergunta-se: "Quem é o mais velho?", ela hesita, seu indicador vai e vem entre as duas fotos, como um limpador de para-brisa e... Não consegue responder. Infelizmente, não me parece que a mulher sofresse de uma doença rara. Pelo contrário.

A infantilização dos pobres e outros grupos socialmente desvalorizados é recurso antigo, que funciona naturalizando a inferioridade de quem está por baixo e, de quebra, ainda atenua a culpa de quem tá por cima.Afinal, se fulano é apenas um "rapazinho", faz sentido que ele nos sirva, nos obedeça e, em última instância, submeta-se à tutela de seus senhores, de suas senhoras.

Nos EUA, até a metade do século passado, os brancos chamavam os negros de "boys". Em resposta, surgiu o "man", com o qual os negros passaram a tratar-se uns aos outros, para afirmarem sua integridade. No Brasil, na segunda década do século XXI, o expediente persiste.

Faz sentido. Em primeiro lugar, porque persiste a desigualdade, mas também porque todo recurso que escamoteie os conflitos encontra por aqui solo fértil; combina com nosso sonso ufanismo: neste país, todo mundo se ama, não?

Pensando nisso, enquanto pagava minhas compras, já começando a ficar com raiva da mulher, imaginei como chamaria o funcionário do supermercado, se estivesse no lugar dela. Então, me vi dizendo: "Ei, "amigo", você sabe onde fica a farinha de mandioca?", e percebi que, pela via oposta, havia caído na mesma arapuca. Em vez de reafirmar a diferença, reduzindo-o ao status de criança, tentaria anulá-la, promovendo-o ao patamar da amizade. Mas, como nunca havíamos nos visto antes, a máscara cairia, revelando o que eu tentava ocultar: a distância entre quem empurra o carrinho e quem empacota as compras.

"Rapazinho" e "amigo" -ou "chefe", "meu rei", "brother", "queridão"- são dois lados da mesma moeda: a incapacidade de ver, naquele que me serve, um cidadão, um igual. Não é de se admirar que, nesta sociedade ainda marcada pela mentalidade escravocrata, haja uma onda de preconceito com o alargamento da classe C, que tornou-se explícito nas manifestações de ódio aos nordestinos, via Twitter e Facebook, no fim do ano passado.

Mas o bordão que melhor exemplifica o susto e o desprezo da classe A pelos pobres, ou ex-pobres que agora têm dinheiro para frequentar certos ambientes antes fechados a eles, é: "Credo, esse aeroporto tá parecendo uma rodoviária!". De tão repetido, tem tudo para se tornar o "Você sabe com quem está falando?!" do início do século XXI. Se o Brasil continuar crescendo e distribuindo renda, os rapazinhos, que horror!, ganharão cada vez mais espaço e a coisa só deve piorar. É preocupante. Nesse ritmo, num futuro próximo, quem é que vai empacotar nossas compras?

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

E AGORA BONNER... A CULPA É DE QUEM?

Meu queridos, deêm uma olhada na manchete do O GLOBO de hoje (13/01)

Lula não mandou dinheiro para prevenção. Lula não mandou dinheiro para contenção de encostas e, só “agora”, a presidente Dilma Rousseff autorizou o repasse de R$ 780 milhões para recuperar áreas destruídas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

As organizações GLOBO, numa pincelada só, acabam de colocar nas costas do Lula mais de 400 mortes.Percebem?
"Ok Felipe, mas isso é do feitio deles mesmo", diriam vocês.

Tudo bem, concordo! Mas como a realidade é uma danada que vive ficcionando a vida da gente, peço a atenção de vocês pra mais uma dessas ironias da dita cuja. Leiam, por favor, essa matéria do último dia 20 de outubro, retirada do ótimo Conversa Afiada, versando sobre onde foi parar parte do dinheiro destinado a contenção de encostas no Rio de Janeiro.(se tiver pequeno, clica na imagem que ela abre maior)



Leram? Então pensemos juntos agora no elo entre as “coisas que coisam” o mundo: em outubro passado, a Prefeitura e o Estado do Rio de Janeiro repassam 130 milhões de Reais para as Organizações Globo. Parte desses milhões, como diz a matéria, são para conter encostas e previnir esse tipo de tragédia. Em troca, um mês depois (vocês hão de se lembrar), as Organizações Globo clamam para os sete ventos a VITÓRIA do Estado do Rio de Janeiro sobre a violência. Finalmente chegou o dia que VENCEMOS O CRIME e invadimos o Alemão! Não é isso que a Globo vem te vendendo desde então?

Pois bem... continuem comigo: aí, quando a região serrana do Rio vem abaixo num cataclisma geológico-hidrológico-político, passando o rodo em todas as áreas de ocupação suicida que os municípios autorizam ocupar desde sempre e quando parte do dinheiro destinado a prevenir essa tragédia, o governo do Estado resolve desviar pra construir museus nas mãos da Globo, faz com que os Marinho não tenham muito quem culpar... ai sobra pra quem? Já que a Dilma ainda nem esquentou seu trono e, como todos sabem, apontar Sérgio Cabral e São Pedro como culpados é blasfêmia... vai no Lula mesmo que tá fora de jogo. BINGO!


Tá aí, mais uma boa mentira construída pra entreter e confundir nossa cabeça. Ah! se eu pego esse mundo real...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

UMA LASQUINHA DA HISTÓRIA


Povo invadindo o gramado do Congresso na posse da Presidenta Dilma

Ok! Não votei nela no Primeiro Turno e nem em ninguém. Já estava em Brasília, longe do meu “curral” eleitoral. E mesmo se pudesse, não teria votado. Mas no Segundo Turno eu votaria se estivesse no meu Acre. Mas também não estava lá pelo mesmo motivo do Primeiro Turno. Entretanto, o fato é que acompanhar a posse da primeira mulher a assumir a presidência do Brasil e se despedir do, para esmagadora maioria de brasileiros, melhor presidente que o país já teve, é emocionante. A sensação é de estar tirando uma lasquinha da história.

História essa que julgará, com a frieza da distância, a nossa geração e nossos governantes. Hoje, já que não consigo olhar lá da frente e de minha confortável posição de estilingue, tenho várias pedras pra jogar na vidraça do governo Lula. No entanto, buscando entender os limites do poder, de como ele é exercido há séculos no Brasil e por tê-lo acompanhado direto da ponta do Brasil (ops!), a “presidência operária” trouxe ganhos reais pra quem precisava e deixou ganhando quem sempre ganhou. Como antes só o segundo que se dava bem... vai saber se a arte de quiabar governar não esteja justamente em agradar todo mundo, sem nenhuma ordem mudar?

E o fato de hoje termos uma mulher na presidência do Brasil, representa um salto na luta pela igualdade de gênero nesse país que é tão arraigado a tradições machistas de constante desrespeito aos direitos e as vontades das mulheres. SENSACIONAL!

Em terras latinas de "raízes masculinas", temos as duas maiores nações da América do Sul governada por mulheres: Brasil e o Flamengo...ah! Tem a Argentina também...ehehe! Parabéns mulherada!

A mulher do Brasil
É orgulho que temos
Presidente do país
Fomos nós que pusemos
E elas gritam por ai
-Sim, nós podemos!


Após o juramento e o discurso no congresso, a Presidenta Dilma passa em carro aberto a caminho do Palacio do Planalto para receber a faixa presidencial do Presidente Lula.


Presidente Lula descendo a rampa e se despedindo do Palácio do Planalto, acompanhado pela presidenta Dilma.