Vejam bem: era uma vez um Estado que tinha tudo. E como tudo tinha, pouco se importava com o seu futuro. Afinal, quem tudo tem com nada se preocupa. Mas como a vida (ah! essa ingrata), não permite o tudo para sempre que, como todos sabem, é muito tempo, ela foi tirando aos poucos tudo o que tinha esse velho reinado, ops!, Estado.
Primeiro tirou-lhes o Distrito Federal e, depois de virar a cidade-estado da Guanabara, teve que se misturar com uma série de cidades capengas para virar, aí sim, no Estado do Rio de Janeiro. Durante tudo isso, viu sua vocação portuária e naval virar sucata, viu sua cidade favelizar virando um faroeste e virou um Estado que vivia do aço e da cana vindos, olhem vocês, daquelas cidades capengas que falei logo ali atrás. Mas como o destino não é padrasto (para uns), eis que surge a carta na manga do Rio de Janeiro: o petróleo. Ah! O sangue negro do capital! Com o crescimento significativo que a produção do óleo deu na década de 80 e 90 , o Estado virou a Arábia brasileira. Desde então, o Rio surfa nas ondas polpudas dos royalties do petróleo.
Um desavisado conhecendo a história que coloquei acima, deve ter pensado: "com tanto dinheiro, o clima de pobreza e violência acabou com certeza." É meu amigo, não acabou não... pasmem, piorou! No entanto, agora que está se pensando na mudança das regras de distribuição dos royalties (afinal, o petróleo é do Brasil ou do Rio de Janeiro?), cria-se uma celeuma coletiva convocada por Sérgio Cabral e toda a classe política do Rio (de A a Z) em prol de um dinheiro que poucos cariocas ou fluminenses sentem seus benefícios. Que tal, antes de reclamar pelo dinheiro, os cariocas exigirem explicações de onde ele é gasto?
Ou seja: o Rio na última semana vive de um xororô de dar inveja aos botafoguenses. Talvez daí venha a sina do Botafogo. Pensem comigo: antes de chorar na televisão, não seria melhor o sr. Sérgio Cabral mostrar onde está o rombo? Como é aplicado esse dinheiro? Diante da marcha da insensatez que vimos no centro do Rio ontem aos gritos de Ah! Ah! Uh! Uh! O Petróleo é nosso! não há como tirar o trono de Picaretas da Semana a todos que ali estiveram. De "manifestação política" virou o bloco dos Picaretas Sem Noção. Sensacional! Vão direto pro trono!
5 comentários:
Gostei muito mesmo deste artigo! Sensacional!!!
Cara, você tem um estilo muito especial, muito agradável. Ao ler,sente-se que você está quase que pessoalmente diante do leitor. E desta vez, até me ensinou que "celeuma" é uma palavra FEMININA!!! Olha SÓ!!! Sempre acreditei que este vocàbulo, derivado da língua de Heródoto, o Pai da História,fosse masculino!!! Obrigado po rmais essa!
Prof. JCBarbosa
PS. Por que não dar uma pasadinha por nossa cidade agora na Semana Santa? Se não vier, uma PÁSCOA recheada de muita espiritualidade!!!
Um abração.
Essa é a maior bizarrice de todos os tempos!!! O meu patrãozinho (afff...) deveria merecer um combo de picareta dos proximos anos! Convocar aqueles que fazem o Brasil funcionar ainda o pouco que ele funciona (nós, trabalhadores) a deixar de lado os seus respectivos oficios para marchar em prol do petroleo que ele deve beber todos os dias no seu café da manha é deprimente...
O pior é que a Cinelandia tava mais cheia que dia de Monobloco na Rio Branco...deprimente
Bom, como o texto levanta várias questões, vamos por partes, como diria o estripador...
Que a indignação e a convocação popular de Cabral já entrou para as história como um dos atos mais cinicamente lamentáveis e populistas da história recente da política brasileira, não resta a menor dúvida. Mas ainda mais cínica, bizarra e lamentável que a atuação de Cabral em todo este episódio, foi a aprovação da emenda do deputado Ibsen Pinheiro. O sentido da existência dos royalties está estritamente ligado à região produtora e qualquer modificação nesta orientação é uma total descaracterização de sua própria razão de existência. A própria pergunta do texto (o petróleo é do Rio ou do Brasil?) é respondida na maneira como ocorre sua divisão, pois se não me engano 40% de todos os royalties vão para a União. Infelizmente o Brasil têm um sério problema institucional e até mesmo legal na condução de suas relações entre o público e o privado. Dessa forma, os estados não produtores se sentem “prejudicados” pois agem como se a tal União fosse algum tipo de empresa privada, com estrutura orçamentária sem qualquer relação ou responsabilidade com as demais unidades federativas, exigindo, assim, sua parte no bolo. Sobre a questão da corrupção, o argumento também não é válido, pois acreditar que o dinheiro desviado aqui no Brasil não será desviado nos outros estados é no mínimo muita inocência. Enfim... Nessa história toda, ninguém ganhou o Motorrádio. Já a Cremilda, ta lotada, sem nenhuma vaga até o dia 3 de Outubro...
Abração
PS: Ironias à parte, como cidadão fiquei mais uma vez profundamente chocado com o nível de incompetência e despreparo de nosso políticos... A atuação do Congresso e a reação do Cabral em todo este episódio mais uma vez expuseram todo o esgotamento de nosso sistema político. Por mais utópico e irreal que possa soar, acho que o Brasil precisa urgentemente repensar as estruturas de sua democracia representativa. Absolutamente lamentável...
Vini, meu amigo, eu nem toco no assunto de corrupção. Isso já virou meio lugar-comum e não queria cair na faciidade dessa crítica, apesar dela ser preponderante. Pra onde for esse dinheiro, terá problema com certeza.
Mas enfim, sobre o recurso da União realmente você tem razão. Mais do que uma relação complicada em relação ao Público e o privado, o fato preponderante desde sempre na politica brasileira é quem assina o cheque. A idéia é eliminar os intermediários....
Infelizmente é por aí mesmo, rapaz.
Eu só citei a questão da corrupção por conta da parte final do texto da postagem...
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