RENAISSANCE AVEC ELEGANCE

Pois é, meus amigos... Depois de toda família Picareta dar seu depoimento sobre os fatídicos acontecimentos em meio às cinzas do carnaval, chegou a minha vez. Dimensionar uma perda material é sempre algo complexo, pois a subjetividade inerente ao fato pode impor ao olhar estranho uma sensação de exagero ou banalidade, mas o "Picaretas" em seus pouco mais de dois anos de vida transformou-se em algo muito além do banal para todos nós. Idealizado por mim como uma ferramenta para aglutinarmos nossas amizades, não apenas cumpriu com louvor seu objetivo primeiro, como também tornou-se elemento mais do que precioso para todos que entraram de cabeça neste projeto. É impossível contabilizar quanto de nós se perdeu na imensidão do universo virtual, mas ainda que tornada siberpoeira, as memórias de todas as águas, palavras, imagens e sons que rolaram por estas páginas nos acompanharão para o resto de nossas vidas. Este espaço já é parte indissociável de nós e ainda que nos ausentemos ou finjamos certa indiferença, tenho certeza que tudo que ocorreu por aqui nos afetou e atingiu de sobremaneira. Entretanto, o tempo é de recomeçar! Cinzas... Palavra carregada de significados negativos e melancólicos, muitas vezes também surge associada ao sentido de renascimento. E é isso que precisamos fazer agora... Fazer renascer das cinzas que nos feriu, todo imaginário afetivo que construímos ao longo desses dois longos anos de existência. Recuperar o espírito, o corpo, mas sem necessariamente nos repetirmos. Uma oportunidade de reinventarmos nossa própria criação sob um olhar mais aprimorado, lapidado por nossa já importante experiência acumulada. Portanto, meus irmãos, vamos subir a bordo, pois a viagem já está recomeçando...

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA, TINHA UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO

foto: Paulo Alvadia

Queridos leitores desse espaço (tem algum?), permitam-me uma modesta pergunta do qual lhe darei quatro alternativas. Ai vai ela: quando você tem uma dor de ouvido como faz para tratá-la?
a) vai ao médico ver o que é
b) vai levando com compressa quente no ouvido pra ver se a dor passa
c) faz nada porque se "eu to sentido dor devo tá merecendo".
d) quer saber? Corta a orelha pra essa porra não doer nunca mais.

E qual a sua resposta? A? Sabe qual é a resposta da Prefeitura do Rio? Pra quem quer combater mendigo colocando pedra onde eles dormem só pode ter cravado na alternativa D.

Meus amigos, o choque de ordem do Eduardnho, como já era de se esperar, acabaria cedo ou tarde em esbarrar nessa atitude "tão fácil". Ou seja, você cria um espaço urbano altamente excludente onde, ao invés de oferecer possibilidades dignas aos moradores de rua, você oferece a eles o não-lugar. Afinal, pra que lugar pra quem não existe?

Ao meu ver, ainda não são os abrigos (a maioria localizados lá no caixa prego) que resolveriam um problema que, simplesmente, não é apenas o dormir no relento. O problema é outro, culpa de um sistema excludente por definição. Mas como esse "tal de Sistema" tá ruim de cair, é possível sim minimizar o problema oferecendo, principalmente, dignidade a essas pessoas.

Parte da culpa disso tudo é da prefeitura sim e ela pode ajudar a resolver a questão por inteiro. Mas como a opção pelo "esconder pra resolver" tá no sangue e vem desde Cabral, é melhor deixar assim porque com tradição a gente não mexe!

Mas bem que vocês ai do Rio podiam dizer pro Eduardinho (vai que ele ouve) que dor de ouvido se cura com tratamento adequado e que a orelha não tem nada a ver com isso.

* Acreditem pessoal: finalmente uma sugestão de pauta da Claudinha virou post. Continue assim queridinha. Vai que no ano que vem a gente te dá outro mole?

SERÁ QUE EU VOU VIRAR BOLOR?

Venho pensando se estou perdendo a essência da minha geração. Cada disco, filme ou série baixada 3 meses antes de seus lançamentos me geram prazeres momentâneos e questionamentos eternos:Será que perdi meu romantismo? Será que me tornei um ser técnico, mecânico? Será que eu vou virar bolor?

Todos meus jornalistas preferidos possuem blogs, com calorosas discussões diárias. A modernidade permite isso. Permite também que eu não seja uma pessoa indignada ao ler o Rio Fanzine numa página minúscula de “O Globo”...e isso é um problema, pois nunca me imaginei sem as duas páginas centrais do Rio Fanzine no Segundo Caderno de “O Globo” de domingo nos esquecidos anos 90...será que eu vou virar bolor?

Acho maravilhoso ouvir a BBC Radio 1 e seus programas de rock independente nas segundas a noite. Ouvir os lançamentos no “tempo zero” que a NME Radio faz...mas te digo uma coisa: sinto falta da Fluminense FM, com todos os seus erros e atrasos ela foi inigualável pra mim, mas venho lembrando pouco dela...será que eu vou virar bolor?

Quando vejo a programação da Mtv com seus talk shows e suas gincanas pra ver quem beija quem não consigo mais ser crítico...o que a Mtv fazia o Youtube faz, e o melhor você só vê o que você quer, diriam alguns. Mas eu te digo: nenhum programa me influenciou e me provocou sensações inigualáveis como o Lado B...mas hoje tudo está ao nosso alcance em um clique e o Lado B nem existe mais...será que eu vou virar bolor?

Os jogos do Flamengo na TV aberta, sportv, premiere e afins me fazem, por hora, esquecer os VTs dos principais jogos da rodada que passavam na TVE as 10 da noite com narração de Januário de Oliveira...será que eu vou virar bolor?

E os desenhos? Ahhh, os desenhos...venho esquecendo o nome de meus personagens preferidos...será que eu vou vira bolor?

Sei de toda essa história que o “espaço é um verdadeiro campo de forças com aceleração desigual e com uma evolução não idêntica” como disse Milton Santos. Sei, pois vivo intensamente esse espaço e sociedade, mas te digo o espaço atual às vezes me causa angustia.

Queria apenas ir ao Cine Baronesa, ouvir um disco, tomar uma cerveja e depois namorar.

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*** “Será que vou virar bolor?” é uma música de Arnaldo Baptista, o mais brilhante mutante, que encontra-se no clássico disco “Loki?”, de 1974.

“Hoje eu percebi...Que venho me apegando às coisas...Materiais que me dão prazer...O que é isso, meu amor?...Será que eu vou morrer de dor?O que é isso, meu amor?...Será que eu vou virar bolor?Venho me apegando ao passado...E em ter você ao meu lado... Onde é que está meu rock'n'roll?”

Tenho me perguntado muito onde está meu rock n’ roll...será que eu vou virar bolor?

Postagem publicada originalmente em 26 de fevereiro de 2008

VERDADES DEFINITIVAS DE UM TEMPO TRANSITÓRIO XVII

Já que recomeçando estamos, não custa nada lembrar...

Millor

* charge originalmente postado em 31 de janeiro de 2008.

O AZARADO CABEÇÃO

Peço ao Deus do mundo todo
Que me ajude no refrão
O Picaretas acabou?
- Até parece meu irmão!
Fumo invadido por alguém
O conteúdo virou sabão.

Mas foi andando pela praia
Que deparei com um cordão
Ela é a história de um azarado
Que tinha um cabeção
Essa história eu conheço
Não é coincidência não

O pobre azarado
Escrevia de montão
Tinha prazer em tudo aquilo
Aquecia seu coração
Mas um dia tudo sumiu
- Ai meu Deus que aflição!

Escrevia com os amigos
Sobre alhos e bugalhos
Picaretas se tornaram
Desde o tempo de pirralhos
Mas agora tudo sumiu
- Por onde anda esse balaio?

A culpa disso tudo
O povo sabe dizer
É do azarado cabeção
Não tem jeito, só pode ser
Vive de escrever bobagem
A culpa é dele, pode crer.

Mas peraí meu grande amigo
Há um problema nessa questão
Essa história é do Chefe
De outro não é não
Com o tamanho dessa chulapa
Não tem boné que cabe não

E essa história aconteceu
No mês do folião
No carnaval do rebolation
O Tadeu foi até o chão
Mas dançarina ele não é (ui!)
- Bailarina é profissão!

Me despeço desse cordão
Recomeçando o meu borrão
Esse espaço eu preservo
Isso pra mim é diversão
Bola pra frente meus amigos
Sai do Orkut meu irmão!

* titulo e capa retirada da obra de Jorge Calheiros, artista alagoano. O cordel é de outoria do blog e não diz respeito a obra do autor nordestino.

O FUTURO QUE NASCE DO PASSADO

Nosso querido blog foi vítima de terrorismo virtual. Isso é um fato. Não é uma opinião nem uma especulação.

Já que a realidade nos colocou essa condição, nada temos a fazer a não ser viver e tocar o barco para frente. Não adianta chorar, lamentar e entristecer por isso. Vamos deixar os belos, saudosos e antigos posts guardados dentro da lembrança, em algum lugar muito especial que nos faça sorrir sempre que lembrarmos deles. Afinal, são pedaços e fragmentos de vida, de afeto, carinho e amizade. Não vale a pena borrá-los com lágrimas de tristeza. Como diria Dave Mustaine (guitarrista e vocalista do Megadeth): "A tout le monde, a tout les amis, je vous aime, je dous parti, these are tha last words that I've speak and I'll set me free" (não sei se escrevi direito, mas nada que um bom diocionário não resolva, ok?).

Bom, o meu futuro do blog será alimentado pelo meu passado distante e próximo. Quando voltamos da Europa fui arrebatado por um desejo de retomar uma atividade que simplesmente formou o ser humano que sou: escrever. Portanto, nos próximos posts gostaria de compartilhar com vocês alguns rabiscos infantis que escrevi quando era adolescente. Não sei se é para serem levados a sério, não sei se são bons, não sei se possuem valor artístico. Provavelmente não.

Bom, espero que gostem.

POEMA RUSSO

A Carália bem que tentou
Mas não conseguiu penetrar na Chechênia

Mas a Glasnot
Traçou a Perestroika

UM PLÁGIO DE ALBERTO CAEIRO

O cão ladra
Porque é cão
Flor não chora
E pedra não grita
Porque são flor e pedra.
E você, não tem maciez de pétala
Nem coração de pedra
Porque não é flor nem pedra.
E as metáforas
São apenas metáforas.
Não são flor, pedra, anjo
Ou brancura

SEM LENÇO, SEM DOCUMENTO E SEM DIREÇÃO!

Não é de hoje que a indústria fonográfica brasileira está em crise, quase morta. O grande problema de tudo isso é que não foi apenas o mercado fonográfico brasileiro que entrou em crise(em alguns países ele continua muito bem, como na Inglaterra, Japão e afins), foi a música e tudo que a envolve. Revistas acabaram (você tem hoje a Rolling Stone, que cá entre nós só o Felipe acha bacana), jornais diminuem seus espaços (só os "deuses" da MPB continuam com os seus) e principalmente as rádios (a verdadeira casa da música) estão definitivamente enterradas. Alguns anos atrás não só se vendia mais discos, tínhamos mais opções. Roberto Carlos, The Cure e Gretchen vendiam muito e tinham seu espaço (rádio, tv, jornais), e existe espaço pra todos. O que temos hoje é vendagem mínima e padronização no que toca nas rádios que sobraram (alguém escuta?), no Faustão e na MTV. É claro que a Internet se torna a rota mais óbvia aos ouvidos mais atentos, mas a boa música e a variedade sonora poderia ainda ter espaço em outros lugares, não? Os vinte discos mais vendidos no Brasil em 2009 (Jornal O Globo), mostram que a crise musical do país não está só nas vendagens, está na qualidade, que parece ter fórmula única. Confira:

1. "Iluminar", Padre Fábio de Melo (Som Livre): 264 mil cópias

2. "Zezé di Camargo & Luciano" (2008), Zezé di Camargo & Luciano (Sony): 261 mil

3. "I am... Sasha Fierce", Beyoncé (Sony): 239 mil

4. "Elas cantam Roberto Carlos", vários (Sony): 206 mil

5. "Promessas", vários (Som Livre): 205 mil

6. "Eu e o tempo ao vivo", Padre Fábio de Melo (Som Livre): 196 mil

7. "Borboletas", Victor & Léo (Sony): 181 mil

8. "Vida", Padre Fábio de Melo (Som Livre): 180 mil

9. "Ao vivo em Uberlândia", Victor & Léo (Sony): 152 mil

10. "Ao vivo e em cores", Victor & Léo (Sony): 130 mil

11. "De volta aos bares", Bruno & Marrone (Sony): 115 mil

12. "Paraíso - Nacional", vários (Som Livre): 113 mil

13. "Deus do impossível", Aline Barros (Som Livre): 112 mil

14. "Padre Fábio de Melo", Padre Fábio de Melo (Som Livre): 103 mil

15. "Duas horas de sucesso - Ao vivo", Zezé di Camargo & Luciano (Sony): 98 mil

16. "Collection", Simply Red (Som Livre): 90 mil

17. "No line on the horizon", U2 (Universal): 89 mil

18. "Pop it rock it", vários (Som Livre): 89 mil

19. "Thriller - 25th anniversary edition", Michael Jackson (Sony): 88 mil

20: "Ao vivo", Victor & Léo (Sony): 87 mil

Tentei finalizar esse texto mas não consegui. A lista é tão assustadora que não consegui escrever algo sensato, além do mais não vou ficar falando mal do Padre Fábio de Melo assim né, por mais moderno e metrosexual que ele seja, acho que ainda assim seria pecado. O último a sair apague a luz.

RECOMEÇANDO...

Picaretagem. Carnaval é mesmo época de picaretagem, só não esperávamos uma tão grande. O nosso conteúdo (como bem disse o menino da selva: "conteúdo exclusivo") virou pó no último dia de carnaval. Em meio ao ziriguidum, ao vale night, ao rebolation, aos beijos roubados e aos últimos festejos de momo os textos dos picaretas se foram (e esperamos que voltem). Se foram as musas, os picaretas da semana, os clássicos, as fitinhas, as provocações e tudo mais. Um pedaço das nossas memórias e histórias se foram como o carnaval. Mas o mesmo carnaval picareta será o que marcará o recomeço desse espaço, afinal um bom picareta inverga mas não quebra, e nossa amizade vai além de um botão errado do Blogger. Pode colocar a cerveja pra gelar e um som pra tocar, pois depois de um dia, o do descanso, já estamos de volta. Let's Go!