E do alto de meu ateísmo, deixo à vocês uma arrebatadora procissão de páscoa... A ópera é “Cavalleria Rusticana”, que traz na santa celebração um de seus elementos centrais. Sicília... Pedaço de terra encerrado em sua própria natureza arcaica e selvagem, eleva sua condição de ilha ao limite extremo de suas possibilidades. Bárbara sob qualquer olhar, costuma ser fatal à quem a desafia. A Sicília de “Cavalleria Rusticana”, do imaginário de todos que já se deixaram viajar em sonhos por aquelas paragens... Bruta em sua intangível ordem secular, tem no choque entre o beato e o mundano sua força maior. O renascimento em Cristo emoldurando a tragédia desenhada, anunciada pela ancestral “vendetta” siciliana. A pequenez humana visceralmente confrontada com a grandeza da ressurreição do Deus-Homem, expressa na dor e despeito da mulher abandonada por seu frívolo amado. “A Te La Mala Pascua!”, diz o ameaçador e desesperado grito de Santuzza, antecipando o inexorável destino que veste de morte o resto de vida que sobra, então, à Turiddu.
Morte-Renascimento-Morte. A dramática tríade que cerca e implacavelmente entrelaça duas cenas tão diferentes quanto belas. Uma das mais célebres óperas entre todas já feitas. Poderoso signo da essência mais profunda desta pequena porção de mundo, não por acaso utilizado como pano de fundo para a seqüência de quase 20 minutos que encerra a trilogia “O Poderoso Chefão”, outra furiosa ode à Sicília primal...
Meu título é apenas uma pequena subversão para acarinhar vocês, Picaretas do meu coração...
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