terça-feira, 3 de agosto de 2010

POR QUEM OS SINOS DOBRAM


Vô Paixão
24/11/1922 - 30/07/2010

Meus queridos, eu tenho um avô absolutamente fundamental na história da minha vida e da minha família. No ultimo dia 30 ele faleceu e deixou lembranças e um carinho inigualável. Não sei exatamente se aqui seria o espaço de colocar essa homenagem que fiz a ele em seu velório (talvez o melhor seria no blog do Diário). Mas como o Picaretas está carente de assunto, coloco por aqui mesmo. Só pra situar vocês: o meu avô tinha o apelido de Paixão e morava numa cidadezinha pequenininha do sul de Minas chamada São José do Alegre. Viva o Paixão!

Quando a família do Paixão se reúne é sempre para celebrar. Em geral é no Natal e isso é muito presente nas nossas vidas: quando juntos estamos, celebramos. E hoje mais uma vez todos reunidos... não poderia ser diferente. Celebremos o meu vô Paixão.

A história do meu avô sempre soou pra mim como um épico. É a partir dessas histórias contadas a mim que minha vó Dita e o vô Paixão se transformaram em verdadeiros heróis.

Década de 50 / São José do Alegre / TRABALHO / homem do campo/ sem dinheiro / humilde / TRABALHO / casamento / prefeito / caminhão / TRABALHO / 8 filhos / TODOS formados / TRABALHO / dificuldades financeiras / família unida.

Esse pequeno enredo resumido é o meu lastro, a minha bandeira que carrego com orgulho.

Muitas vezes tive dificuldades de entender a fala do vô Paixão. Ele tinha uma dicção difícil de compreender. Lembro de um dia, talvez já adolescente ou quem sabe já no início da faculdade, que eu resolvi observar o meu avô com mais atenção. Ele na roça plantando arroz, tocando o gado. Ele no quintal, sobe escada, desce escada, mexe dali, conserta daqui... sempre trabalhando. Incansável. Lembro, como hoje, nesse exercício de observar mais atentamente o meu avô, de chegar a seguinte conclusão: “Olha só! Por isso que o meu pai é assim”.

Pois é. Foi observando o meu avô que eu entendi o meu pai e mais: percebi que, com o vô Paixão, tudo o que ele passou para seus filhos e netos foi muito mais através do exemplo, da honradez, da ação do que pela palavra. Apesar de sua pouca intimidade com a palavra escrita ou falada, podemos dizer que no lidar, no trabalho, na humildade, na perseverança e no exemplo o meu vô era um poeta!

E apesar de sua imagem muitas vezes simplória, definitivamente, o vô Paixão não veio ao mundo a passeio. Ele com certeza é de um certo grupo de seres humanos, raros hoje em dia, que tiram de tão pouco e constroem grandes coisas. Fora seu legado para o Alegre, talvez a sua maior construção, em conjunto com a vó Dita, foi a nossa família. Se hoje somos o que somos, devemos muito ao amor e a persistência conjunta do Vô Paixão e da Vó Dita.

Pois então, é por isso que o orgulho de se neto do Paixão vem junto com a responsabilidade de ser neto do Paixão. Ser neto do Paixão, pra mim, é item de Currículo... Já imagino inclusive o empregador analisando a minha experiência e vê lá... “Hummmm! Esse é neto do Paixão. Deve ser bom e trabalhador... e um pouco teimoso.”

E hoje quando nós dizemos um “até mais” ao vô Paixão, eu prefiro celebrá-lo. A vida como a conhecemos padece... não tem jeito. E melhor mesmo é quando a ordem natural das coisas se impõe. Ela é soberana. Filhos se despedindo dos pais é a regra e que assim seja.

Pra terminar, tem uma frase que eu aprendi com um morador da floresta muito parecido com o meu avô, que diz mais ou menos o seguinte (os erros gramaticais são genuínos): “O mundo é duas porta: saber entrar e saber sair. Se ele entrar e não saber sair, lá na frente tá trancado, é igual a boca de um peixe. Ele não sai de lá nunca.(...) Se saber entrar e tratar as pessoas ele vira o mundo inteiro. O mundo inteiro.”

Por isso, peço que celebremos o meu avô que soube entrar e sair de nossas vidas deixando um rastro infinito de exemplos e amor. Hoje o mundo é seu Paixão!
Missão comprida e cumprida.
Vá com Deus!

Felipe Cruz Mendonça, 3º. neto do Paixão, filho do Marcelo
30 de julho de 2010

8 comentários:

Tadeu disse...

maravilha Felipe...te conhecendo já imaginávamos isso da sua família...bola pra frente!

grande abraço, Tadeu.

Patricia disse...

Lindo texto meu querido!
Vida cumprida para ele que se vai e vida seguida para nós que ficamos!
Beijo em seu coração! :)

Claudinha disse...

Lindo.

Bjos,
Claudinha

Daninha disse...

Meu bem,

Realmente você me surpreende sempre. Lindo texto, linda homenagem, linda família, linda história de vida. Não canso de dizer que sinto muito orgulho de você.

Celebremos a vida sempre!!

Beijos enooormes...

vinicius disse...

Meu amado e distante amigo,

Quanto tempo não nos falamos. Lindas palavras que delineiam perfeitamente a intensidade e força do sentimento que teligava ao seu avô. Guarde sempre contigo toda beleza com que você nos presentiou neste texto e sempre terás lembranças eternamente singelas em teu coração. Ainda que longe, conte sempre com esse teu amigo aqui...

Beijo Grande em Seu Coração

Felipe disse...

Vinicius meu velho....cadê vc cara?
Saudades de vc...e do Fidel tb que não dá mais as caras!

Beijos pra vcs
Felipe

Unknown disse...

É e a saudade aumenta...

Tati disse...

...lágrimas...

Beijo, querido!