domingo, 29 de agosto de 2010

EVANGELHISMO DO SEM SAÍDA


Fudido por fudido, quem se importa o que ocorreu...
Tu vai "alcançar a tua graça", mas 30% é meu!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

INCENSO DO MUNDO


Já há algum tempo tive a oportunidade de ver o vídeo de uma palestra do líder seringueiro Chico Mendes na PUC do Rio de Janeiro em 1987, moderada por Carlos Walter Porto Gonçalves, um professor querido que tive o prazer de ter na minha graduação. No inicio da gravação Carlos Walter relatava sua dificuldade e a do Chico de chegar ao Rio de Janeiro naquele ano, em razão da fumaça ocasionada pelas queimadas na Amazônia, que provocavam o fechamento dos aeroportos.

Em setembro de 2003, quando acabava de chegar ao Acre e até aquele momento ainda não vira a floresta, escrevi numa crônica onde num trecho dizia:
"E foi respondida a grande questão do acreano que vos fala: encontramos a Amazônia! No momento ela está voando em cima da minha cabeça! Olha lá, aquela fumacinha deve ser um cumaru ou um jatobá! Já tem gente querendo manejar fumaça, pensando que é manejo florestal.... é rir pra não chorar! Pelo amor de Deus, alguém joga água nesta fogueira! Vocês precisam ver, de noite a lua fica laranja com aquela névoa de fumaça horrorosa. Maior clima de boate e os pilantras incendiários cantando: "Tô nem aí! Tô nem aí!" Aí, vem o meu amigo bêbado, vendo a lua laranja, aquela névoa toda e me diz: "Aí Felipe, olha que loucura, estão fumando a Amazônia!" De maior floresta, virou o maior maço do mundo.... caminhando e queimando nóis vai defendendo a floresta.”


Aí eu pergunto: o que mudou de 87 e 2003 para hoje? Nada, rigorosamente nada, eu te respondo. Há pelo menos 23 anos defumamos o mundo, queimando a Amazônia, e nada é feito para mudar essa realidade. Ah! E se anteriormente falei que nada mudou, minto: piorou. Esse ano foi igualado a estiagem recorde do ano de 2005, onde a chuva, somados os meses de junho, julho e agosto, chegou a apenas 31,5mm. Pra se ter uma idéia, no mesmo período em 2009 choveu 100,7mm.


Então você imagina um clima extremamente seco, com uma fumaça de marejar os olhos, provocando diversos problemas respiratórios? É assim que grande parte do Acre e Rondônia se encontra no momento. Os aeroportos de Porto Velho e Rio Branco invariavelmente vêm fechando por algum período, todos os dias, em virtude das fumaças. Respirar na Amazônia hoje, se não fosse tão vital, não seria nada recomendável.


Enquanto tudo vira cinza, a briga que “vale” mesmo é saber de quem é a fumaça: “Não, do Acre não é... Deve ser de Rondônia” “Isso é coisa do Mato Grosso” “Que nada, é da Bolívia”. Cada um empurra a fumaça pra debaixo do Estado do outro e nada se resolve.


Olhando isso é que ainda reafirmo a questão: o que queremos mesmo da Amazônia? Não vale brincar com as palavras dizendo que é preciso preservar o “pulmão do mundo”, blá, blá blá. Algo original vai... ou você já encontrou alguém que seja contra a floresta e o meio ambiente?


Pois é, enquanto tratarmos o meio ambiente e a Amazônia apenas com palavras de ordem, sem ações que de fato contenham o avanço da destruição da floresta e dos demais ecossistemas (porque não cortam o financiamento com dinheiro de banco público de quem destrói, por exemplo?), estaremos fadados a passar de pulmão para o incenso do mundo. Quem sabe não “energiza” o ambiente, né?


*publicado originalmente, em agosto de 2010, na revista eletrônica Verbo 21 na Coluna Verde Que Te Quero Verde (www.verbo21.com.br)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

VERDADES DEFINITIVAS DE UM TEMPO TRANSITÓRIO XX

Alguém dúvida?
O Brasil não faturou a Copa de 2010 mas vai superfaturar a de 2014

terça-feira, 3 de agosto de 2010

POR QUEM OS SINOS DOBRAM


Vô Paixão
24/11/1922 - 30/07/2010

Meus queridos, eu tenho um avô absolutamente fundamental na história da minha vida e da minha família. No ultimo dia 30 ele faleceu e deixou lembranças e um carinho inigualável. Não sei exatamente se aqui seria o espaço de colocar essa homenagem que fiz a ele em seu velório (talvez o melhor seria no blog do Diário). Mas como o Picaretas está carente de assunto, coloco por aqui mesmo. Só pra situar vocês: o meu avô tinha o apelido de Paixão e morava numa cidadezinha pequenininha do sul de Minas chamada São José do Alegre. Viva o Paixão!

Quando a família do Paixão se reúne é sempre para celebrar. Em geral é no Natal e isso é muito presente nas nossas vidas: quando juntos estamos, celebramos. E hoje mais uma vez todos reunidos... não poderia ser diferente. Celebremos o meu vô Paixão.

A história do meu avô sempre soou pra mim como um épico. É a partir dessas histórias contadas a mim que minha vó Dita e o vô Paixão se transformaram em verdadeiros heróis.

Década de 50 / São José do Alegre / TRABALHO / homem do campo/ sem dinheiro / humilde / TRABALHO / casamento / prefeito / caminhão / TRABALHO / 8 filhos / TODOS formados / TRABALHO / dificuldades financeiras / família unida.

Esse pequeno enredo resumido é o meu lastro, a minha bandeira que carrego com orgulho.

Muitas vezes tive dificuldades de entender a fala do vô Paixão. Ele tinha uma dicção difícil de compreender. Lembro de um dia, talvez já adolescente ou quem sabe já no início da faculdade, que eu resolvi observar o meu avô com mais atenção. Ele na roça plantando arroz, tocando o gado. Ele no quintal, sobe escada, desce escada, mexe dali, conserta daqui... sempre trabalhando. Incansável. Lembro, como hoje, nesse exercício de observar mais atentamente o meu avô, de chegar a seguinte conclusão: “Olha só! Por isso que o meu pai é assim”.

Pois é. Foi observando o meu avô que eu entendi o meu pai e mais: percebi que, com o vô Paixão, tudo o que ele passou para seus filhos e netos foi muito mais através do exemplo, da honradez, da ação do que pela palavra. Apesar de sua pouca intimidade com a palavra escrita ou falada, podemos dizer que no lidar, no trabalho, na humildade, na perseverança e no exemplo o meu vô era um poeta!

E apesar de sua imagem muitas vezes simplória, definitivamente, o vô Paixão não veio ao mundo a passeio. Ele com certeza é de um certo grupo de seres humanos, raros hoje em dia, que tiram de tão pouco e constroem grandes coisas. Fora seu legado para o Alegre, talvez a sua maior construção, em conjunto com a vó Dita, foi a nossa família. Se hoje somos o que somos, devemos muito ao amor e a persistência conjunta do Vô Paixão e da Vó Dita.

Pois então, é por isso que o orgulho de se neto do Paixão vem junto com a responsabilidade de ser neto do Paixão. Ser neto do Paixão, pra mim, é item de Currículo... Já imagino inclusive o empregador analisando a minha experiência e vê lá... “Hummmm! Esse é neto do Paixão. Deve ser bom e trabalhador... e um pouco teimoso.”

E hoje quando nós dizemos um “até mais” ao vô Paixão, eu prefiro celebrá-lo. A vida como a conhecemos padece... não tem jeito. E melhor mesmo é quando a ordem natural das coisas se impõe. Ela é soberana. Filhos se despedindo dos pais é a regra e que assim seja.

Pra terminar, tem uma frase que eu aprendi com um morador da floresta muito parecido com o meu avô, que diz mais ou menos o seguinte (os erros gramaticais são genuínos): “O mundo é duas porta: saber entrar e saber sair. Se ele entrar e não saber sair, lá na frente tá trancado, é igual a boca de um peixe. Ele não sai de lá nunca.(...) Se saber entrar e tratar as pessoas ele vira o mundo inteiro. O mundo inteiro.”

Por isso, peço que celebremos o meu avô que soube entrar e sair de nossas vidas deixando um rastro infinito de exemplos e amor. Hoje o mundo é seu Paixão!
Missão comprida e cumprida.
Vá com Deus!

Felipe Cruz Mendonça, 3º. neto do Paixão, filho do Marcelo
30 de julho de 2010