segunda-feira, 17 de maio de 2010

ALGUÉM TEM O ANDRÉ SANTOS AÍ?


Talvez um dos grandes prazeres que minha infância me proporcionou foi colecionar álbum de figurinha. Na verdade, não sei se realmente foi um dos maiores prazeres da minha infância, mas já que não ando jogando volei e futebol num espaço improvisado no play do prédio, não ando brincando de salada de fruta por "motivos de força maior" e o meu time de botão há tempos se aposentou, só me restou relembrar o gostinho pelas figurinhas.

Não sei de onde saiu a idéia, mas desde o último sábado venho colecionando o álbum de figurinhas da Copa do Mundo. Tem algo mais retrô que isso? E vou te falar: tá uma delícia. O álbum dessa Copa é mais bonitinho e continua com o mesmo charme. Hoje inclusive você não paga pelo álbum... só compra os pacotinhos de figurinhas a 0,75 de Real e pega de graça o álbum na banca. Eu tenho a impressão que naquela época a gente tinha que comprar o álbum né? Enfim, abrir o pacotinho de figurinhas continua com a mesma graça: sempre na expectativa do que virá e muito puto quando as 5 que vem é tudo repetida. Pô! Muito legal.

Lembro que sempre gostei muito de colecionar álbuns de figurinha, mas nunca conseguia completá-los. Minha mãe (culpada igual a sua) jogava isso na minha cara sempre quando eu chegava com um álbum de figurinhas em casa (depois do meu pai, na moita, ter me dado algum$$ pra isso). Ela me enchia de frases do tipo "Quero ver sustentar esse álbum!" "Não sei por que comprar...nunca completou um".

Abro parênteses. Imaginou se fosse hoje? Alguém do juizado de menores ou do MP já teria ameaçado minha mãe de perder minha guarda, obrigando a ela pagar uma tratamento psicológico com acusações do tipo "incutir em cabeça de menor desprotegido sentimentos de derrota e fraqueza". Já posso ver a tia Marina Tanaka, coordenadora pedagógica lá do ginásio, chamando a minha mãe "pra dar explicações". Criança hoje em dia sofre que é uma tristeza! Fecho parênteses.

Mas um dia isso tudo acabou. Eu tinha que completar um álbum pra mostrar pra minha mãe que eu era capaz. E assim foi com o da Copa de 90: meu último e vingador álbum de figurinhas. Depois de muita luta, muito bafo, conchavos com o meu pai e troca com os amigos, consegui completar o meu álbum. Lembro até hoje a última figurinha que me faltava: era o lazarento do goleiro da Argentina (só podia ser) o Pumpido, que na Copa inclusive quebrou a perna e, de quebra, quase quebrou o meu álbum. Ainda o tenho, completinho guardado com muito esmero.... tá naquela caixa NÉ MÃE?

O meu álbum hoje já está nos finalmente e, pra completar o Brasil, só falta o André Santos que, além de não ir pra Copa, tá empatando meu álbum. Alguém tem ele ai?

Lembram desse?

OBS: Mãe, eu te perdoou viu... mas a conta do analista é sua! heheheh

terça-feira, 11 de maio de 2010

SELEÇÃO DE REPARTIÇÃO

Apesar de ser um servidor público e ter orgulho disso, permitam-me fazer uma comparação da seleção do Dunga com uma repartição pública... aquela do senso comum. O escrete selecionado é uma típica seleção de repartição. Observem:

Uma boa repartição pública você tem ali o bom carimbador de declaração. Acerta uma carimbada como ninguém... com velocidade e ritmo satisfatório. Tem também o atendente, ora educado, ora mal humorado mas sempre ali, fazendo o seu com certa destreza. Lá atrás, numa salinha a parte, é o local do chefe de repartição. Geralmente o chefe de repartição é aquele sujeito com seus 30 anos de casa, que já foi muito bom, mas que hoje faz o seu feijão com arroz de 8 às 12 e das 14 às 18, ocupando o cargo muito mais por antiguidade do que por talento mesmo. Ele já teve mais gás sabe, mas há uns 5 anos vem trabalhando no automático...saca?

O problema é quando o sistema cai. Ai meu amigo....fudeu! A fila aumenta, começa um burburinho, ao longe já se ouve um "Isso é um absurdo!" e o atendente com aquela resposta pronta: "O sistema está for a do ar". O chefe não foi capacitado durante esse tempo todo, não entende de sistema nenhum já que ainda usa sua Olivetti "último tipo" e avisa: "Já liguei pro técnico. Ele tá almoçando agora, mas ficou de vir logo, logo." Como o cara tava demorando demais, ele chama Olavinho que entende um pouco de informática, é bem esforçado mas não é sempre que ele acerta. Quando acerta vira rei, quando não acerta... é da vida né. Mas o carimbador, o atendente e o chefe não tem culpa.... eles não entendem de sistema e nem são pagos pra isso.

A convocação do Dunga se assemelha a essa repartição. É uma boa seleção e só. Ela te desperta o mesmo tesão de quando você vai enfrentar uma fila no DETRAN pra renovar a carteira. São 23 jogadores esforçados, de talento mediando comprovado e cada um na sua parte que lhe cabe são bons e fatalmente vão fazer um bom trabalho. Mas bom trabalho não necessariamente ganha Copa. O Kaká me parece que é colocado como a única esperança. Uma sobre-carga enorme encima de um mesmo jogador que vem jogando mal. Ele é o chefe da repartição. Se ele não jogar bem, um abraço. Quem sabe se torne uma espécie de Raí da Copa de 94. Já o Robinho é nosso Olavinho: às vezes cai como uma luva mas tem vezes que faz "papel de Denilson": muita firula pra nada. Ai meu amigo, vai chamar quem quando o sistema cair? Sabe aquele jogo zero a zero, onde ninguém consegue sair da marcação, encardido, com o meio de campo apagado e, num contraataque leva um gol aos 15 do segundo tempo e, se não revidar até os 30, os últimos 15 vai ser um Deus nos acuda? Vai colocar quem? O Júlio Baptista é a solução? Elano talvez?

Entre os nomes do nosso time, não há um coringa, um "estagiário" atrevido que se mete no atendimento, ajuda o carimbador, ensina o chefe a ligar o computador e ainda troca aquela lâmpada que tá queimada desde o ultimo apagão. É uma seleção sem tempero, com a cara do Dunga. Ainda mais fraca que a seleção de 94. O nosso comandante acaba de instituir o coorporativismo de Seleção. Tem até gente melhor, mas o pacto não era com eles... fazer o que? O grupo tá fechado (fechadissimo!), todo mundo é amigo do chefe e que bom que ninguém tem uma noiva louca de fazer chorar.

Por ser esforçado, pode até ser campeão... mas tu vai sofrer pacas e reza (reza muito!) pro sistema não cair. O Olavinho pode não dar conta...


sábado, 8 de maio de 2010

DÁ LICENÇA MERMÃO!

Queria apresentar pra vocês um texto de um colega Analista Ambiental do IBAMA que trás um outro olhar necessário sobre o licenciamento ambiental (esse famigerado!) que ora sim ora também é colocado como um dos empecilhos para o "crescimento" do Brasil e, obviamente, está longe dos olhos da grande mídia.

Hoje, os integrantes da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (seja lá o que isso for) do qual tenho orgulho de pertencer completa um mês de greve em busca de uma carreira que reflita dignamente os desafios que nosso trabalho impõem. Enfim, sem maiores panfletagens, segue o texto.
Dá licença, mermão!'
Publicada em 30/04/2010 às 12h53m

Artigo de Cristiano Vilardo Nunes Guimarães

Hoje em dia falar mal do licenciamento ambiental é mais comum que enchente no Rio de Janeiro. Diz-se que é um entrave ao progresso, um ninho de ambientalistas radicais, trincheira dos "salvem-as-baleias",enfim: é o supra-sumo da burocracia brasileira. Eita cartório difícil esse do IBAMA!

No entanto, é preciso colocar alguns pingos nos is de "licenciamento". Para início de conversa, ao contrário de outros licenciamentos corriqueiros na nossa vida, o licenciamento ambiental não é um ato cartorial, de simples conferência de documentação. Na realidade, o licenciamento ambiental foi a forma encontrada no Brasil para implementar a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) quando esta se difundiu pelo mundo ao longo da década de 1970.

Hoje, a Avaliação de Impacto Ambiental é adotada formalmente em mais de uma centena de países, incluindo todas as economias desenvolvidas e a grande maioria dos países "em desenvolvimento". Muito além de uma burocracia, o papel da AIA é o de garantir a adequada consideração da variável ambiental nas propostas de desenvolvimento, evitando que decisões sejam tomadas sem o dimensionamento das suas consequências ambientais. O seu principal instrumento é o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que, muito mais do que uma exigência do órgão licenciador, deveria ser um instrumento de auxílio ao planejamento de projetos mais amigáveis ao meio ambiente, identificando e avaliando os impactos e riscos do empreendimento e propondo as medidas de gestão ambiental a serem adotadas para minimizar os prejuízos ambientais.

Acontece que, infelizmente, essa perspectiva cartorial - do "tirar a licença" - é a que predomina entre o empresariado nacional e obviamente encontra bastante eco na cobertura da imprensa sobre o licenciamento ambiental. Os estudos ambientais muitas vezes são colagens de outros anteriores, realizadas por uma consultora sem possibilidade alguma de interferência no projeto, a qual foi escolhida porque ofereceu ao contratante o menor preço...

Voltando aos pingos no "is", vamos pensar o que é um licenciamento ambiental "bom"? Em uma primeira tentativa de aproximação, alguém poderia dizer que é aquele onde a avaliação dos impactos e riscos ambientais de determinado empreendimento pôde ser realizada na profundidade adequada, permitindo a proposição de mecanismos adequados de mitigação, compensação e monitoramento, e utilizando para isso o menor tempo possível ao menor custo global possível. Colou? Muito bem, agora, como se operacionaliza isso?

Não parece muito difícil... E se colocássemos profissionais qualificados, em quantidade suficiente, para analisar esses estudos? Hummm... E se esses profissionais, além de bem formados, fossem capacitados para avaliar os impactos de diferentes empreendimentos? Além disso, e se esse pessoal fosse adquirindo cada vez mais experiência no licenciamento, ganhando confiança para propor soluções mais eficientes e eficazes?

Pois então. Parece simples, não? Mas esqueceram de um detalhe: para isso dar certo, esse pessoal precisa querer trabalhar com licenciamento! E esse pessoal só vai querer trabalhar com licenciamento na medida em que esse trabalho for valorizado de acordo com a importância e responsabilidade nele embutidas! A vida como ela é: no concurso de 2002, o primeiro da história do IBAMA, entraram cerca de 60 analistas de nível superior para trabalhar na Diretoria de Licenciamento Ambiental, em Brasília. Em sua maioria, profissionais qualificados, muitos com mestrado ou doutorado, que vieram para a sede do IBAMA vindos de diversas partes do Brasil. Sabem quantos destes analistas trabalham hoje na DILIC? Apenas um. Definitivamente, analista experiente no licenciamento é espécie em extinção.

A razão da evasão? Óbvia. A clara incompatibilidade entre a responsabilidade envolvida no processo de licenciamento ambiental e a desvalorização do servidor público dedicado a essa função. Por desvalorização englobamos uma série de questões que passam pelas condições adequadas de trabalho (computadores, capacitação, espaço de trabalho, bancos de dados, suporte jurídico etc.) e chegam, inexoravelmente, à questão salarial.

O analista ambiental, não só do IBAMA, mas também do ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente, hoje está submetido a uma proto-carreira na qual o patamar salarial do nível mais alto disponível (final de carreira) é inferior ao nível salarial de entrada da carreira de Especialista em Recursos Hídricos/Geoprocessamento da Agência Nacional de Águas, também vinculada ao MMA e com atribuições muito similares de regulação, controle, fiscalização e inspeção. E durma-se com um barulho desses...

Por conta dessa desvalorização, o trabalho no licenciamento ambiental no IBAMA tem se tornado um paradeiro temporário para o analista ambiental, mero compasso de espera enquanto se prepara para uma outra oportunidade que ofereça melhores condições de trabalho e de salário. Nesse cenário tenebroso, o tempo médio de permanência do profissional na Diretoria de Licenciamento Ambiental é de apenas 18 meses. Ora bolas! Como desenvolver excelência técnica, aprimorar e padronizar procedimentos, melhorar termos de referência com uma rotatividade dessas?

E é nesse contexto que chega o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), com diversos projetos de infraestrutura pelo Brasil adentro, demandando licenciamentos em prazos exíguos e jogando faísca nesse barril de pólvora que é o licenciamento ambiental federal. Não dá para dar certo. Qual a solução? Fortalecimento e valorização do licenciamento ambiental, para alcançar maior eficiência e eficácia no processo? Ilusão...

O que se viu nos últimos anos foi uma sucessão de "Destrava IBAMA", "Agiliza IBAMA", "Desocupa-a-moita IBAMA": pseudo-pacotes de medidas com finalidade puramente midiática e de nenhuma repercussão prática no dia a dia do licenciamento ambiental. Que, por sinal, continua sem implementar seu sistema informatizado de licenciamento - o SISLIC -, que já foi "lançado" oficialmente por uns 2 ou 3 presidentes do IBAMA e permanece empacado, sem uso.

São sintomas de que a própria política ambiental conduzida pelo governo encara o licenciamento numa perspectiva cartorial, de "carimbador-maluco". Aliás, instituiu-se no IBAMA o rodízio de diretores de Licenciamento: é um a cada hidrelétrica polêmica. Acabou seu turno, muito obrigado, próximo da fila!

Em síntese: quer licenciamento ambiental ágil e eficaz? Valorize o analista ambiental. Dê-lhe um salário compatível com o desafio de uma regulação de excelência. Forneça capacitação continuada e estimule o aprofundamento dos estudos em pós-graduação. Disponibilize modernos recursos de sistemas de informação para otimizar seu trabalho. Mantenha o profissional por um longo tempo na casa para que seu aprendizado seja incorporado pela instituição. Sem isso, dá licença, "mermão"!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

QUEM CUIDARÁ DOS CARDIOGLIFOS?

Em tempos de vacas magras no Picaretas, permitam-me requentar...



Meus caros e caras, depois de algumas longas linhas versando sobre Brasil, mundo, dores e amores, hoje volto a falar do meu Estado querido. Afinal de contas, enquanto o beijo durar, o tempo curar e a alma existir, todos os amores serão possíveis... e falíveis.

Mas como ia dizendo, discorrerei hoje sobre o Acre e suas curiosidades antropológicas. Isso mesmo, o Acre é um estado arqueológico. Imaginem vocês que com o avanço do desmatamento na fronteira entre o Estado do Acre, Rondônia e Amazonas a partir da década de 70, começaram a aparecer formas geométricas, como quadrados, hexágonos, círculos e losangos cravados na terra. Já tive até o prazer de fotografar um em um sobrevôo. Segundo alguns antropólogos os primeiros indícios mostram que são estruturas de terra formadas por ancestrais indígenas que habitaram a Amazônia até o século XII depois de Cristo. São chamados de geoglifos. Não se sabe exatamente para que serviam essas estruturas, mas imaginam que poderiam estar ligadas a sistemas agrícolas, cultos religiosos ou até de defesa. Mas com certeza, essas descobertas colocam alguns pontos que andei pensando cá com meus botões (como andam me ouvindo!) que dizem muito da natureza humana e das questões que a História esqueceu.

O primeiro ponto mostra que os nossos arborícolas eram muito mais avançados do que imaginávamos. Até agora, na América do Sul, as sociedades que se destacaram no passado são as sociedades que se desenvolveram nas Cordilheira dos Andes (os Incas, por exemplo). Essas descobertas, mostram que os antigos moradores de onde hoje costumamos chamar de Amazônia, eram muito mais do que simples coletores de frutos e folhas. Os geoglifos encontrados mostram uma inteligência e uma técnica mais apurada do que acreditávamos.

O segundo devaneio que venho matutando é em cima de uma tese do professor Carlos Walter que afirma que a floresta amazônica que conhecemos hoje, com grandes florestas e a maior megabiodiversidade do mundo, é fruto também da presença humana. Estudos mostram que o homem já povoava essas bandas quando essas bandas eram apenas savanas, ou seja, com uma vegetação incipiente e “rala”, justamente na época de construção desses geoglifos. Ou seja, a floresta como conhecemos hoje é fruto também da presença humana.... homens e mulheres estavam presentes enquanto a maior riqueza biológica do planeta se formava. Ou seja mais ainda, a Amazônia é um pomar humano (ai como sou exagerado!). Tanto que o professor Carlos costuma chamar essa mata toda de Floresta Equatorial Ombrófila e Cultural Amazônica. A verdade é que o homem nem sempre foi nocivo a floresta e a Amazônia é muito mais do que “apenas” a maior riqueza biológica do planeta. Ela também é uma floresta de gente.

A outra questão que me passa é mais filosófica (filosofia de botequim, que fique claro) e foi pensada bebendo cerveja.

Abro parênteses: vocês já perceberam que a cerveja nos redime de tudo? Irei expor uma bobagem a seguir, mas como já disse que estava bebendo, eu to perdoado. Né não? Se eu falar algo brilhante, sou um gênio. Se for uma asneira completa, vai ter sempre um que lembrará “mas ele tava bêbado né, vamos dar um desconto”. Aproveito o ensejo, pra revelar que só escrevo bebendo, ou seja, me dêem SEMPRE um desconto. Fecha parênteses.

A história da humanidade com o planeta é uma eterna construção e desconstrução. Cada geração de novos homens e novas mulheres deixam suas marcas. Constantemente grafamos e re-grafamos a terra apagando e deixando cicatrizes para o futuro. E essa será nossa eterna busca em entender o passado e sua importância, em estudos que podem durar mais de uma geração de pesquisadores. Mas o que me intriga mais são as histórias e estórias que a História não conta. Nem tudo que se “veve” na vida é grafado na terra e deixa rastros pro futuro. São histórias pessoais de homens e mulheres que morrem juntos com suas vidas e seus corações. Afinal, meu caros e caras, quem cuidarão dos cardioglifos? Quem se debruçara sobre as histórias dos sentimentos. Onde estarão as histórias dos amores mal curados, dos prazeres sentidos, da gargalhada gostosa, da inveja humana, dos carinhos consentidos e do afeto primordial. Onde estão registrados os amores e desilusões de Joana D’arc? A quem interessaria as histórias das pessoas? Pra Jorge Amado o que era mais importante: ter escrito Capitães de Areia ou o seu amor por Zélia Gattai? A história nos rodeia de conquistas épicas, sucessos estrondosos, fracassos retumbantes, mas não nos mostra o que passava no coração do Napoleão. Longe de mim essa soberba, mas quem se importará pelas histórias que escrevo? Por que o que fica para o depois é o diploma, os artigos científicos, o mestrado, o doutorado, o seu trabalho do dia-dia registrado e grafado nos anais burocráticos da nossa sociedade de feitos? Quem será o desocupado que irá pegar o que escrevo no futuro e contar as histórias que me faziam rir, chorar, lembrar, amar e doer? A quem interessa o que vivemos ou deixamos de viver? Quem se importa com as suas amarguras, suas piadas, sua história de vida pessoal? Afinal de contas, venha cá Poetinha, quem pagarão o enterro e as flores se eu me morrer de amores?

(publicado originalmente em 07 de fevereiro de 2008 no Diário de um Acreano - www.diariodeumacreano.zip.net)